quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O Aparente Fracasso do Homem Espiritual


"Renunciai à vossa pretensa cultura,
E todos os problemas se resolvem.
Oh! Quão pequena parece à diferença entre o sim e o não!
Quão exíguo o critério entre o bem e o mal!
Como é tolo não respeitar o que merece ser respeitado de todos!

Oh solidão que me envolve todo!
Todo o mundo vive em prazeres como se a vida fosse uma festa sem fim,
Como se todos vivessem em perene primavera!

Somente eu estou só... Somente eu não sei o que farei...
Sou como uma criança que desconhece sorriso...
Sou como um foragido sem pátria nem lar...
Todos vivem na abundância, somente eu não tenho nada...

Sou um ingênuo, um tolo. É mesmo para desesperar...
Alegres e sorridentes andam os outros!
Deprimidos acabrunhado ando eu...
Circunspetos são eles, cheios de iniciativas!

Em mim, tudo jaz morto...
Inquieto, como as ondas do mar, assim ando eu pelo mundo...
A vida me lança de cá para lá, como se eu fosse uma folha seca...
A vida dos outros tem um sentido, e eu não tenho uma razão de ser...

Somente a minha vida parece vazia e inútil;
Somente eu sou diferente de todos os outros,
E, no entanto - sossega meu coração!
Tu vives no seio da mãe do Universo."

— Tao Te Ching

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Este verso mostra os momentos de reflexão do Mestre, quando ele vacila e se sente em aparente fracasso. Vê que no mundo muitas pessoas são mais bem sucedidas que aqueles que seguem o Caminho Perfeito.

O Mestre deve saber que não é Todo-poderoso e que por isso está sujeito a momentos de incertezas quanto a sua própria maneira de ser. O Mestre sabe que muitas vezes o seu ego ainda ativo fala dentro de si murmurando-lhe que as dificuldades poderiam ser extintas se ele aderisse aos padrões do mundo exterior, mas que deve permanecer firme no Caminho Perfeito.

O Mestre sabe que muitas vezes não existe grande distância ente o mal e o Bem, mas sabe também que deve ser capaz de distinguir essas duas condições e preferir o bem mesmo que sejam grandes as ofertas do mundo exterior.

Qual Jó, o Mestre que está sujeito a ser ainda atacado pela sua natureza dialética inferior.

O Mestre embora veja as facilidades com que vivem os que aceitam os padrões do homem comum, mas mesmo assim quando muito lastima-se por, muitas vezes enfrentar as agruras do viver.

O Mestre embora sinta serem poucos os seus bens materiais e pequenas as suas posses, ainda assim ele deve saber resistir aos embates das ondas do oceano da vida.

Para não renunciar seus valores ele muitas vezes se sente só.

O Mestre, mesmo que por momentos sinta-se só quando os discípulos não o compreendem preferindo as facilidades e as fantasias do mundo às pérolas de sabedoria que ele pode distribuir, mesmo que sabe que não deve deixar-se dominar e aderir ao outro caminho.

O Mestre sabe que os discípulos tendem a cortejar os falsos Mestres em detrimento do verdadeiro, mas mesmo assim tenta sossegar o seu coração.

O Mestre mesmo que sofra com o abandono e a ingratidão dos discípulos que tantas vezes acontece, ainda assim deve manter suas convicções quanto ao como atingir a meta suprema.

O Mestre sabe que não deve esperar muitos elogios quando ensinar verdades que não são compartilhadas com os interesses do mundo dialético.

O Mestre sabe que, mesmo sentindo-se sozinho, ainda assim é preferível renunciar às palavras dos bajuladores interesseiros e conformar-se com o estímulo de uns poucos discípulos sinceros.

O Mestre sabe que deve renunciar à pretensa cultura e optar pela verdadeira humildade.

O Mestre deve saber superar todas as vicissitudes, pois sabe que o seu trilhar correto o conduz ao seio da Mãe do Universo.

— Interpretado por José Laércio do Egito

(Tirinha: Sushi de Kriptonita)


EVOLUÇÃO DA CONSCIÊNCIA 

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