domingo, 16 de novembro de 2014

A Música e o Transe

Um ponto a ser estudado diz respeito aos efeitos da música a nível espiritual, pois tal como ela nos afeta física, mental e emocionalmente, também nos influencia em um nível espiritual, o que, num certo sentido, reveste-se de grande importância no desenvolvimento espiritual. 

Qualquer envolvimento ativo com a música, quer seja compondo, executando ou ouvindo, envolve estados especiais da mente.

Existem dois tipos de música que são normalmente usados para fins espirituais em todo o mundo; um é aquele que pode induzir um estado de transe; o outro o que favorece o estado meditativo. 

A música como meio de indução de transe é freqüentemente tocada, quer acidental ou intencionalmente. Sabe-se que o estado de transe pode ocorrer facilmente quando padrões rítmicos repetidos são ouvidos por tempo suficientemente prolongado. Neste caso quase não segue uma linha melódica, pelo que se pode dizer que tem um caráter plano. Trata-se de um gênero muito usado em diversas regiões, especialmente na Turquia, na África, na Indonésia, no Caribe, no Brasil, em outras partes do mundo em que as sociedades xamânicas continuam ativas, podemos mesmo dizer música capaz de induzir estado de transe está presente em todas as culturas. 

Geralmente a música de transe se baseia em sons de instrumentos de percussão, especialmente atabaques e tambores. Estudos especializados têm mostrado que o batucada rítmica é o meio mais usual de ocasionar estados de transe. Este tipo de som induz características de comportamento pelo efeito que causa sobre o sistema nervoso central. 

Experiências científicas têm mostrado que lâmpadas brilhantes piscando em uma freqüência correspondente a das ondas alfa do cérebro determinam esse tipo de onda cerebral, e também que uma ligeira mudança na freqüência da luz resulta em uma mudança equivalente na freqüência das ondas. Esse tipo de experiência também foi feito tendo como objeto o som se obtendo resultado semelhante. Verificou-se que o mesmo acontecia com as pessoas que participam de cerimonias ritualísticas em que se faz presente sons de tambores. Evidencia-se que tambores soando numa freqüência rítmica de 7 a l3 cps (ciclos por segundo), correspondente a frequência das "ondas alfa" afetam as áreas sensoriais e motoras do cérebro, que em condições normais não são afetadas, produzindo as seguintes mudanças de comportamento dos participantes:

- Alterações sensoriais: Percepções de formas coloridas, modificações na cor da aura, nos movimentos, e nos sons;
- Movimentos físicos tais como balanços, giros, tremores, contrações, e saltos;
- Percepções e alucinações incomuns;
- Aumento da velocidade da respiração, batimentos cardíacos muito rápidos,transpiração abundante e revirar dos olhos. 
- A estimulação sensorial na verdade é causa do estado de transe que é a meta desejada daqueles cerimônias que, via de regra, associado às danças ritualísticas. A clarividência amiúde acompanha o êxtase dos dançarinos e assim aqueles que entram em transe profundo podem prever o futuro, aconselhar as pessoas e comumente atuar como intermediários em processos de cura. 

Nas mencionadas cerimônias, de início, o ritmo dos tambores, as danças e os cânticos são suaves, mas vão aumentando gradativamente em cadência e em volume até que os participantes sucessivamente vão entrando em estado de transe cada vez mais profundo. Quando esse nível é atingido a cadência e o volume são mantidos. As mencionadas cerimônias são uma parte importante na vida espiritual de muitas pessoas. Neste sentido dois objetivos se fazem sentir. Um diz respeito à aquisição de poderes para serem usados com objetivos negativos, para explorações, ou mesmo para causarem algum tipo de sofrimento aos outros os influenciando e tirando proveitos dos mais diversos tipos. Mas existe grande número de pessoas cujo propósito é a comunhão com o mundo dos espíritos mediante o estímulo à perda de percepção do ego como entidade individualizada e separada e em tal condição elas podem sentirem-se em união com o mundo. 

A música de transe, portanto, afeta o corpo alterando a freqüência das ondas cerebrais e inundando as áreas sensoriais do cérebro que pelo mecanismo mencionado antes acaba afetando o sistema glandular, aumentando assim a produção de hormônios, o que, por sua vez, afeta as emoções e a mente. Isto foi comprovado por dois pesquisadores nos Estados Unidos [2] que estudaram o efeito da música sobre o cérebro concluindo:
" A música aumenta os metabolismos corporais... aumenta ou diminui a energia muscular... acelera a respiração e diminui a sua regularidade... produz um efeito distinto, mas variável, sobre o volume, o pulso e a pressão sangüínea... reduz o limiar dos estímulos sensoriais de diferentes modos... influencia as secreções internas ...".

Disto se conclui que, em conseqüência de determinados sons, o sistema glandular aumenta a produção de hormônios que, por sua vez, afeta as emoções e outros processos psíquicos. 

Podemos dizer que o transe é um estado de consciência induzido pelo corpo físico para fins espirituais e, portanto, a música usada em determinadas cerimonias deve ser escolhida de conformidade com o resultado que se espera obter, ou a fim de efetuar mudanças físicas que se fizerem necessárias. 

Diante da capacidade dos sons em geral, e da música em particular, determinar estados de transe é preciso que a pessoa que participe de uma cerimônia em que isto esteja em jogo tenha o máximo de cuidado, pois em estados alterados de consciência a pessoa torna-se muito mais susceptíveis às influências externas. Diante disso a mente torna-se sujeita a entrar em sintonia com o lado negativo da natureza e assim se tornar objeto das mais diversas influências espúrias. Por outro lado ela também pode acessar o lado positivo, pode reprimir o ego e sentir as benesses do Eu Maior. 

Podemos encerrar esta palestra dando ênfase ao que disse Randall McClellan em seu livro "O Poder Terapêutico da Música": 

" No nosso corpo físico ocorrem mudanças decorrentes da sua exposição aos sons e à música; essas mudanças podem ter lugar mesmo que não as percebamos conscientemente. Significativamente, pode não ser necessário manter a consciência para que essas mudanças ocorram ou até não ser preciso darmos uma permissão para que tenham lugar. Por causa disso, uma parte considerável da responsabilidade pelo efeito físico da música pode caber aos que a executam, pois ela não exige uma permissão consciente por parte do ouvinte para nos afetar ao nível físico e psíquico. Durante qualquer apresentação musical, os músicos devem entender que aquilo que criam faz ressoar fisicamente cada pessoa do público, e que o nível de ressonância pode ser intensificado de acordo com o número de pessoas presentes. Portanto, os músicos devem estar constantemente sensíveis aos efeitos de sua música e ter clareza sobre suas intenções." 

(Autor: José Laércio do Egito - F.R.C.)


Evolução da Consciência 

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