Esta prática certamente foi uma das principais causas que transformaram o Tibet no centro espiritual do mundo durante centenas de anos. Seres iluminados, budhas de perfeição como Tilopa, Naropa, Marpa, Milarepa, Padmasambava e muitos outros sempre a praticaram e a transmitiram por gerações e gerações.
Os praticantes do DESPERTAR a chamam de “O Caminho do Raio” ou o “Caminho Direto”, pois é tão poderosa que pode levar à iluminação numa só existência. Certamente é impossível transmitir em palavras a profundidade e amplitude das práticas que conduzem ao DESPERTAR. Raros são os seres que são capazes de ensiná-las com maestria e, certamente, nós não fazemos parte desse seleto rol de seres especiais.
Entretanto, podemos pelo menos delinear e ensinar os primeiros passos que podem levar os alunos à descoberta íntima e pessoal desse maravilhoso caminho. Conceituar a PRÁTICA DO DESPERTAR é limitar sua extensão. Ele é muito mais do que isso. É um sistema de trabalho cujo objetivo é desvelar a natureza espiritual oculta além da mente humana.
Mais ainda. O DESPERTAR não só desvela a natureza espiritual que todo homem traz consigo desde sua origem primordial e imaculada, mas também ensina como é possível estabilizar e permanecer imerso dentro desta natureza, gerando o estado de mente desperta que culmina na iluminação e posterior liberação completa. O cerne dessa prática é a meditação contemplativa e a realização do Vazio.
Ao longo de anos de efetiva prática, o estado contemplativo, tantas e tantas vezes exercitado, conduz o estudante segura e vagarosamente para aquilo que há além da mente ordinária - sua natureza espiritual.
A natureza espiritual da mente é a mais perfeita e pura luz, liberta e sem limites de qualquer espécie. A mente natural, individual, e a mente Cósmica são expressões do mesmo princípio, separados apenas pela ilusão da dualidade que reside no tempo e na forma, ambas projeções ilusórias da mente ordinária.
Os pensamentos condicionados, a tagarelice mental, as fantasias, os devaneios, as crenças, as ilusões, as esperanças vãs, os desejos mórbidos e os defeitos humanos são originados e somente têm existência na mente ordinária, também conhecida como mente animal.
A Prática do Despertar nos ensina a reconhecer e a separar o que é impuro do que é puro, o que é ilusão da realidade, desobstruindo a luz ilimitada e, junto com ela, as virtudes mais sagradas e perfeitas que até então não podiam expressar-se.
A meditação para o Despertar tem a capacidade de não só ampliar a percepção, mas também aprofundar a atenção, tornando-a tão apurada e perfeita que nenhum pensamento inconsciente sai ou entra na mente sem que sua origem ou finalidade seja desconhecida.
Por isso a meditação para o Despertar nos dá a visão clara, concisa e aguda da natureza de todos os fenômenos psíquicos, naturais ou físicos. Em outras palavras, esta visão aguda da natureza de todas as coisas permite-nos aprofundar a compreensão da origem e desenvolvimento de tudo que passa dentro e fora da mente, inclusive de nossas debilidades humanas e do desdobramento positivo ou negativo de nossas ações.
A PRÁTICA:
A prática da meditação é realizada de olhos abertos ou semi-cerrados.O despertar e a iluminação se caracterizam por uma profunda conscientização da vida que flui dentro e ao redor de nós. Os olhos abertos ou semi-cerrados, além de dificultar o devaneio e a fuga do mundo que nos cerca (comuns a muitas técnicas), mantém a mente altamente alerta e atenta, de forma que este estado deve permancer não só durante a prática em si, mas também durante todos os atos do dia-a-dia.
Ora, uma mente iluminada não somente o é nos momentos de meditação passiva, dentro de um quarto ou templo. A mente iluminada caracteriza-se exatamente pela permanência desse estado também durante o ir e vir dos ventos kármicos que constantemente movem nosso destino e durante as atividades diárias e corriqueiras.
O DESPERTAR treina e mente e fortalece a consciência para que esse estado de imersão dentro da pureza imaculada da Mente Natural se estabeleça e permaneça ininterruptamente.
Pode-se usar a postura de lótos, semi-lótos ou a postura sentada em uma cadeira. O essencial é manter a coluna reta e a cabeça firmemente pousada sobre os ombros.
A mente e o corpo, ainda que profundamente relaxados, devem se manter alerta e despertos. Não deve haver tensão de espécie alguma, resistência, atrito ou ansiedade tanto no corpo quanto na mente e a entrega deve ser total.
O erro mais comum nessa prática específica, é permitir que a sonolência turve a claridade da mente. Quando isso ocorre cria-se um estado mental de torpor e semi-consciência, dando-nos a falsa idéia de que estamos meditando, quando na verdade a mente se presta para todos os tipos de devaneios, recordações, projeções e fantasias.
Volto a repetir, esse é o estado mais comum de devaneio e muitíssimas pessoas têm sido enganadas pela sutileza da mente, crendo estar realizando progresso quando isso de fato não ocorre.
Eis porque há tanta dificuldade em aprofundar os estados de consciência, captar e compreender a fundo nossas debilidades humanas e suas intrincadas e ocultas facetas psicológicas.
Certamente, durante a meditação surgirão inúmeras espécies de imagens, lembranças e preocupações. A mente ordinária é como um macaco louco enfurecido que pula de galho em galho. Porém, devemos sempre lembrar que além desse tormento há um oceano de paz e tranquilidade. Por isso salientamos a importância de se treinar a mente para que ela se torne limpa e translúcida, que não se fixe e tampouco reaja perante o que vê, ouve e sente.
Ao iniciarmos a prática, o estado de relaxamento buscado deve ser tão puro e perfeito que apenas repousamos a atenção no ato de respirar, sem forçar ou imprimir qualquer ritmo respiratório que não seja o natural.
Repousamos a atenção absoluta e total no puro ato de inalar e exalar. Sentimos como o ar entra e sai através de nossas narinas, causando uma leve sensação na parte superior dos lábios. Mais importante ainda é colocar extrema atenção na pequeníssma e natural pausa que há após a exalação e antes da inalação. Esta extrema atenção também deve repousar sobre a mesma pausa que há depois da inalação.
Porque esse momento é mágico. Essa pausa é a abertura que poderá lhe revelar o estado perfeito e imaculado da mente – o estado de Rigpa, como dizem os tibetanos. A meditação para o DESPERTAR aprofundada lhe revelará que esse mesmo instante mágico existe sempre entre dois pensamentos, por mais fulgazes que possam ser.
Durante a prática, o estudante perceberá que lentamente seus pensamentos diminuirão e tenderão a desaparecer. Desta forma verá com mais clareza que entre um e outro pensamento há um Vazio, onde a mente ordinária se cala e abre-se uma brecha para que a natureza imaculada da mente (Rigpa) aos poucos se revele.
O estado desperto da mente é uma consequência do estabelecimento e da continuidade desse Vazio, onde o estado de Rigpa então é desvelado completamente, trazendo à tona toda a perfeição inata e primordial de sua natureza.
Fazer consciência dessa pausa e mergulhar nesta abertura é o mesmo que perfurar um pequeno orifício num gigantesco dique que repreza um Oceano ilimitado. Ao perfurar este orifício passa a jorrar através dele uma pequena, porém inesgotável, fonte de luz.
Com o tempo faremos mais e mais orifícios, só que cada vez com mais frequência e maiores, até o dia em que toda essa muralha será derrubada. Quando isso ocorrer seremos tragados por esse Oceano e nos tornaremos um só com Sua natureza.
http://arodadoamor.blogspot.com.br/2011/03/pratica-do-despertar-mae-de-todas-as.html
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