Sem passar pela periferia do ego, não chega-se ao centro do Ser
Se você quer conhecer a si mesmo tem de abandonar suas falsas imagens, tem que se ver como você é — e isso não é muito bonito, esse é o problema. Não é muito bonito, e é por isso que você criou belas imagens — para se esconder. Se você se vir na sua nudez total, não verá uma cena muito bonita: verá raiva, verá ciúme, verá ódio, verá milhões de coisas erradas ao seu redor. E você se considera um grande amante — e tem ciúme, possessividade, ódio, raiva, e todos os tipos de negatividade. Você se considera uma pessoa muito bonita — mas quando entra dentro de si mesmo, encontra a feiura... e imediatamente dá as costas.
É por isso que há milhares de anos os Budas têm ensinado: "Conhece-te a ti mesmo." Mas ninguém os ouve. Conhecer-se parece ser uma coisa tão difícil — por que? Porque você tem de enfrentar fenômenos feios. Eles existe e é preciso passar por eles. Você tem um belo ser interior, mas esse belo ser não está na periferia, está no centro. Para alcançar o centro, você tem de passar pela periferia. E você não pode fugir, não há como escapar, é preciso passar por ela. Você tem de atravessar toda a feiura, toda a negatividade, ódio, ciúme, violência, agressão, e se estiver pronto e maduro o suficiente para passar pela periferia, só então alcançará o centro. Aí a cena muda.
No centro você é Deus; na periferia, é o mundo — e o mundo é feio. Na periferia você nada mais é que uma sociedade em miniatura, e a sociedade é feia. Na periferia você é um Napoleão, um Hitler, um Gengis Khan, um Timur Leng, todos os políticos e todos os loucos do mundo. Na periferia você é uma miniatura de tudo isso; é toda a história da agressividade, da violência, da opressão, da escravidão. Na periferia, lembre-se, você é a história que pertence a este mundo. Tudo está envolvido; tem de ser assim porque a mente não lhe pertence, é um produto social. A mente carrega todos os germes do passado, todos os males do passado, toda a feiura do passado, porque a mente pertence ao coletivo. Existem determinados momentos em que você pode ver ou observar o seu próprio Gengis Khan, o seu próprio Hitler. Existem momentos em que você pode ver que gostaria de assassinar, de matar e destruir o mundo inteiro.
Você precisa ser corajoso para passar pela periferia, para ser uma testemunha. E se você conseguir penetrar nessa periferia, nessa sociedade, na história, então você será, no centro, o próprio Deus. Há então uma beleza infinita — mas essa beleza infinita é intocável pela sociedade, não é a periferia. Então você é inocente como um recém-nascido, fresco como uma gota de orvalho pela manhã, incontaminado. Mas para chegar a isso, você tem de passar por toda a feiura. Toda a história do homem tem de ser atravessada. Você não pode simplesmente evitá-la.
É isso que você tem feito. E é por isso que o autoconhecimento tornou-se difícil — você quer evitá-lo. A única maneira de evitá-lo é fechar os olhos, não ver. Criar como contrapartida um sonho privado. Olhar para você como você gostaria de ser — todos os ideais, utopias, belas imagens. Fazer um pequeno nicho perto da periferia — bonito, enfeitado — e não olhar para a periferia, ficar de costas para ela... Você tem medo de sair do seu lugar enfeitado, porque bem perto dele está o vulcão — entrará em erupção a qualquer momento. Assim, as pessoas falam sobre o autoconhecimento, discutem a respeito, escrevem sobre ele, criam sistemas, mas nunca o experimentam. Mesmo os que estão sempre falando em conhecer o ser, falam apenas nisso, argumentam a respeito, discutem, mas nunca o experimentam na realidade efetiva. E o autoconhecimento é uma experiência existencial, não uma teoria. Teorias não funcionarão. Teorias também serão apenas parte de sua decoração. Elas não quebrarão o gelo. Elas não romperão a periferia. Não o levarão para o centro.
Você ouve as pessoas: se elas dizem que você é Deus, você se sente muito feliz; se dizem que você é uma alma eterna, você se sente muito feliz. Mas você pinta e enfeita essas teorias também. Elas também são um truque são fugas — não o ajudarão. Ande pela Índia. Todos sabem que o mundo todo é parte de Deus, todos são 'brahmans'. E veja como suas vidas são feias. Olhe para a vida dessas pessoas que falam sobre Deus; você não encontrará nem uma única partícula, nem mesmo uma partícula atômica daquilo que elas estão dizendo. Elas não falam para convencê-lo, mas sim para convencerem a si mesmas. Entretanto, continuam na periferia e também sentem medo de se mover.
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